Pseudoartrose do escafóide
O escafóide não “colou”...e agora? Por que isso acontece? Como evitar? Como proceder?
A pseudoartrose do escafóide é a não-união (ausência de consolidação óssea) de uma fratura do osso escafóide, localizado na primeira fileira do carpo no punho. Conforme mostramos no ARTIGO SOBRE FRATURAS DE ESCAFÓIDE, esse osso é muito importante para a dinâmica do punho e deve ser tratado precocemente quando identificado uma fratura.
Acontece que algumas vezes essa fratura pode passar despercebida nas radiografias comuns (o que ocorre em até 30% dos casos!) e o paciente pode perder a oportunidade de um tratamento precoce para essa fratura, aumentando assim os riscos de evoluir com um quadro de não consolidação do escafóide.
Além disso, o osso escafóide, como vimos no ARTIGO SOBRE FRATURAS DO ESCAFÓIDE , tem uma vascularização pobre, o que piora muito no contexto do trauma. E como sabemos, a boa vascularização é fundamental para que ocorra uma consolidação óssea adequada.
Diante desse contexto, a pseudoartrose do escafóide (ou não-união) é uma patologia muito frequente (10-15% de todas as fraturas de escafóide), sendo a complicação mais comum e mais temida da fratura desse osso, uma vez que resulta em um quadro muito doloroso e incapacitante no punho.
Por isso, é muito importante evitar/prevenir, através de um tratamento precoce e adequado das fraturas de escafóide. Uma vez estabelecida a Pseudoartrose do Escafóide, existem muitas opções de tratamento e podemos ter bons resultados na maioria dos casos se tratados adequadamente.
O que significa Pseudoartrose do escafóide?
O termo Pseudoartrose do escafóide é um sinônimo de Não-União do escafóide ou Não consolidação do escafóide.
A origem da palavra “pseudo = falso” e “arthros = articulação” ocorre porque com a evolução do processo de não união, ocorre a esclerose dos fragmentos, formação de cistos e radiograficamente os fragmentos podem se comportar como se houvesse uma nova articulação entre eles. Portanto, a pseudoartrose significa que existe uma falsa articulação, pois não deveria haver articulação, e sim uma consolidação óssea firme.
Por que acontece a Pseudoartrose do escafóide?
Como falamos anteriormente, o osso escafóide tem uma vascularização esparsa e retrógrada, com pouco fluxo sanguíneo, principalmente na sua porção mais proximal.
Esse padrão vascular predispõe a ocorrência de não união no contexto das fraturas, principalmente quando há estabilização insuficiente ou inadequada. Por isso é fundamental reconhecer as fraturas de escafóide precocemente e tratar adequadamente, com um especialista.
Porém, mesmo com o tratamento correto da fratura de escafóide, ainda assim pode ocorrer a não união, e os principais fatores de risco são:
- Idade avançada
- Tabagismo
- Diabetes
- Outras doenças crônicas
- Tratamento e/ou reabilitação inadequada da fratura
Quais são os sinais clínicos da Pseudoartrose do escafóide?
Clinicamente, o paciente com pseudoartrose do escafóide irá apresentar dor no lado radial do punho, dificuldade para realizar alguns movimentos, creptações (cliques) e perda de força. A dor tende a melhorar com o repouso.
Os sintomas podem iniciar de forma mais leve e progredir com o tempo, chegando em alguns casos a incapacidade de uso do punho para atividades diárias de trabalho ou lazer.
Como identificar a Pseudoartrose do escafóide?
Exames de imagem simples como radiografias podem identificar a pseudoartrose do escafóide, através da presença de deformidade desse osso, cistos, esclerose das bordas do fragmento e eventualmente sinais de osteonecrose.
A ressonância magnética e a tomografia computadorizada confirmam a presença de não união do escafóide e ajudam a detalhar os aspectos da lesão, como cálculo do tamanho dos fragmentos, presença de osteonecrose do polo proximal e artrose das articulações adjacentes, sendo muito importantes para o planejamento terapêutico.
Qual o tratamento para a Pseudoartrose do escafóide?
Já falamos aqui que o ideal seria prevenir a pseudoartrose do escafóide, mas uma vez que ela já está estabelecida, qual a melhor forma de tratar?
Bom, a maioria dos casos de pseudoartrose de escafóide devem ser tratadas de forma cirúrgica, pois o nosso organismo não consegue desfazer o foco de fibrose que se forma entre os fragmentos ósseos e reestabelecer uma vascularização adequada por conta própria.
Os princípios do tratamento são: Biologia e Estabilidade. O que isso significa?
- A biologia diz respeito à chegada de um fluxo sanguíneo adequado em um leito bem vascularizado. Conseguimos melhorar a biologia da região de pseudoartrose através da remoção cirúrgica do foco de fibrose ali presente, e da colocação de enxertos ósseos (vascularizados ou não, a depender de cada caso).
- A estabilidade entre os fragmentos pode ser dada através da fixação com placas, parafusos ou fios de aço, a depender de cada caso. Sem estabilidade adequada, ocorrem micro-movimentos, que impossibilitam o processo de consolidação.
Esses dois princípios possuem igual importância e devemos nos atentar muito a eles. Existem diversas técnicas cirúrgicas que podemos utilizar para chegar de forma satisfatória a esses objetivos. A análise do paciente e dos exames de imagem serão essenciais na definição do tratamento junto com o seu cirurgião de mão.
Quais as complicações da Pseudoartrose do escafóide?
A pseudoartrose do escafóide em si já é uma complicação de uma fratura de escafoide.
Porém, com o passar do tempo, a não união do escafóide pode apresentar complicações ainda mais graves, se não for tratada.
Como assim?
- A instabilidade gerada pelos fragmentos não consolidados altera toda a dinâmica dos outros ossos do punho, uma vez que o escafóide é um osso chave na mobilidade do carpo.
- Com o tempo, o funcionamento inadequado do escafóide pode gerar um desgaste nas articulações adjacentes, com perda da cartilagem de revestimento, um processo que chamamos de artrose. No contexto da pseudoatrose de escafóide, essa artrose tem um nome específico – SNAC (Scaphoid Non-union Advanced Colapse) – traduzido como um colapso avançado secundário a não união do escafóide.
- Essa situação gera uma dor crônica e faz com que as cirurgias convencionais para tratamento de pseudoartrose do escafóide mencionados acima não funcionem mais, pois agora há outras fontes de dor. Sobram cirurgias de salvação, que reduzem a dor, porém causam compensatoriamente uma diminuição da mobilidade normal do punho.
Podemos concluir, portanto, que a pseudoartrose de escafóide é uma complicação grave de uma fratura do escafóide que não consolidou. A não-união pode deixar sequelas ainda mais graves se não tratada corretamente e no tempo adequado. Por isso, fiquem atentos. Não se deve postergar a procura pelo médico especialista. Se você está com dor no punho após um trauma, pode ser fratura do escafóide. Se você está com dor e já teve uma fratura no punho há muito tempo (às vezes você nem sabe que teve), pode ser a não união do escafóide. Procure ajuda especializada o quanto antes!
Dr. Lucas Macedo
CRM SP 178413