Malformações congênitas nas mãos: diagnóstico e opções de tratamento


A gestação é um período complexo e delicado onde a formação fetal acontece. As primeiras semanas são de intensa reprodução celular e aos poucos os tecidos vão se formando e se diferenciando, dando origem aos diferentes órgãos, membros e anexos (cabelos, unhas etc.). Durante esse percurso, algumas falhas na formação e/ou desenvolvimento celular infelizmente podem ocorrer, dando origem às malformações congênitas.
As alterações congênitas de forma geral afetam entre 1-3% dos recém-nascidos. Destes, 10% têm alguma anormalidade nos membros superiores. Essas alterações podem afetar não apenas a funcionalidade, mas também a autoestima e interação social das crianças. Felizmente, graças aos avanços médicos, é possível identificar essas condições precocemente e proporcionar tratamentos especializados e individualizados, trazendo conforto, segurança e esperança para toda a família.

Neste artigo, você compreenderá detalhadamente o que são as malformações congênitas nas mãos, conhecerá os tipos mais frequentes, saberá como é feito o diagnóstico precoce e quais são as opções avançadas de tratamento disponíveis atualmente, além do impacto funcional, emocional e social dessas correções. Boa leitura!

O que são malformações congênitas nas mãos?

As malformações congênitas nas mãos são alterações anatômicas que ocorrem durante a formação do bebê no útero. Essas diferenças estruturais aparecem devido a fatores genéticos, como herança familiar ou mutações espontâneas, ou ambientais, como exposição a medicamentos ou infecções durante a gestação.

Contudo, em muitos casos, não há uma causa específica identificada, sendo essas ocorrências completamente imprevisíveis. É fundamental reforçar que essas condições não decorrem de ações dos pais, eliminando sentimentos indevidos de culpa e reforçando a importância de buscar orientação médica especializada.

Os tipos mais comuns são: Sindactilia, Polidactilia, Hipoplasia do polegar, Displasia Radial, Macrodactilia, dentre outras.

Sindactilia

Entre as malformações mais comuns está a sindactilia, que ocorre quando dois ou mais dedos estão unidos parcial ou totalmente. Essa condição pode afetar desde simples movimentos cotidianos até atividades mais complexas que exigem precisão manual.

Sindactilia

Polidactilia

Outro tipo frequente é a polidactilia, caracterizada pelo nascimento de dedos extras. Esses dedos adicionais variam desde pequenas projeções de pele até dedos completamente formados com estruturas ósseas, o que pode gerar tanto impacto estético quanto funcional.

Polidactilia

Hipoplasia do polegar

A Hipoplasia do polegar, como o nome diz, ocorre quando o polegar não se desenvolve adequadamente (às vezes pode ser até uma ausência do polegar propriamente dita), aparecendo com um tamanho menor e com a função comprometida.

Hipoplasia do polegar

Displasia radial

A Displasia radial também chamada de Mão torta radial ou deficiência longitudinal radial, ocorre quando as estruturas do lado radial (mais próximos ao polegar) estão mal-formadas ou ausentes, levando a mão a um aspecto de desvio característico, com limitação funcional importante, além dos desafios estéticos e sociais.

Displasia radial

Macrodactilia

Já a macrodactilia, embora mais rara, causa o crescimento desproporcional de um ou mais dedos, dificultando atividades diárias e trazendo desafios emocionais devido à diferença visual evidente.

Macrodactilia

Outras malformações

Existem inúmeras outras alterações nos membros superiores que podem surgir ao nascimento, desde desvios angulares (clinodactilia), gatilho congênito, deficiência ulnar, encurtamento dos dedos, mão em fenda, síndrome de banda de constricção, amputações congênitas, dentre outros. Síndromes genéticas podem estar associadas em alguns casos, com problemas em outras partes do corpo. Sempre haverá algum tratamento a ser feito para dar conforto e melhorias na qualidade de vida para a criança e os pais. Não deixe de procurar ajuda médica especializada o quanto antes.

A importância do diagnóstico precoce

Um diagnóstico precoce é crucial para um tratamento eficaz e melhores resultados. Através do ultrassom morfológico, realizado durante o pré-natal entre a 18ª e a 22ª semana de gestação, já é possível identificar muitas dessas malformações. Ao nascer, pediatras e ortopedistas fazem um exame físico detalhado e se necessário usam exames como raios-X, ultrassom, tomografia e ressonância magnética para complementar o diagnóstico. Quanto mais cedo a condição é identificada, mais eficaz e menos invasivo tende a ser o tratamento, facilitando uma adaptação mais natural da criança às correções realizadas.

Tratamentos especializados disponíveis

Existem atualmente várias opções eficazes para tratar malformações congênitas nas mãos, envolvendo abordagens cirúrgicas e terapêuticas complementares. Cirurgicamente, intervenções como a separação dos dedos na sindactilia, remoção de dedos extras na polidactilia ou a redução do tamanho dos dedos na macrodactilia proporcionam resultados funcionais e estéticos bastante satisfatórios. Mesmo em casos mais complexos é possível amenizar o impacto estético, social e funcional que essas deformidades podem causar.

Tratamentos não cirúrgicos, como a fisioterapia, terapia ocupacional e o uso de órteses específicas, podem ser a primeira escolha em casos mais simples, mas mesmo nos casos cirúrgicos são fundamentais para garantir uma reabilitação completa, auxiliando na recuperação da função motora e na adaptação das crianças à vida cotidiana.

Impactos além da funcionalidade: emocional e social

Os benefícios das correções das malformações congênitas nas mãos vão além da funcionalidade. O aspecto estético aprimorado após os tratamentos ajuda a fortalecer a autoestima e o bem-estar emocional da criança, minimizando situações de preconceito ou exclusão social. Dessa forma, as crianças tratadas precocemente podem se desenvolver com confiança, participando plenamente das atividades escolares, esportivas e sociais, o que favorece seu desenvolvimento integral.

Cuidados contínuos e apoio familiar

Além dos tratamentos médicos, o apoio emocional e familiar é fundamental. O acompanhamento psicológico para pais e crianças, bem como grupos de apoio e troca de experiências entre famílias, pode ser extremamente benéfico para superar desafios emocionais associados às malformações congênitas. O envolvimento ativo da família no processo terapêutico melhora significativamente a qualidade de vida e a capacidade adaptativa da criança.

Em resumo, a abordagem multidisciplinar e humanizada no tratamento das malformações congênitas nas mãos não só melhora a funcionalidade física, mas promove um desenvolvimento saudável e harmonioso, permitindo às crianças uma vida plena, segura e feliz.

O Dr. Lucas Macedo é membro do corpo clínico de cirurgia da mão do Instituto Torus, uma das maiores clínicas particulares de São Paulo. Foi médico assistente da equipe de ortopedia e cirurgia da mão do hospital universitário da USP – HU. Foi também preceptor da residência de cirurgia da mão e microcirurgia da universidade de São Paulo – USP. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM). Especializado em cuidar das pessoas, com atendimento ético, humanizado e baseado nas mais atuais evidências científicas, o Dr. Lucas tem o objetivo de cuidar das mãos de seus pacientes.