Artrite reumatoide nas mãos: como o cirurgião de mão pode ser um aliado no tratamento
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica que atinge principalmente as articulações, sendo as mãos um dos locais mais vulneráveis. Com o tempo, a inflamação constante pode levar a deformidades, dor intensa e perda de funcionalidade. Felizmente, o cirurgião de mão desempenha um papel fundamental tanto no alívio dos sintomas quanto na preservação da qualidade de vida dos pacientes.
Neste artigo, vamos entender melhor essa atuação e descobrir quando procurar ajuda especializada. Continue a leitura!

Como a artrite reumatoide afeta as mãos?
A artrite reumatoide é uma doença autoimune que afeta principalmente as articulações, sendo as mãos e os punhos locais frequentemente acometidos. Inicialmente, a inflamação persistente nas articulações pode causar dor, inchaço e rigidez matinal. Com o avanço da doença, estruturas articulares como tendões e ligamentos podem ser danificadas, levando a deformidades visíveis, como desvio dos dedos, dedos em botoeira e dedos em pescoço de cisne.
Essas alterações não apenas comprometem a estética das mãos, mas também dificultam tarefas simples do dia a dia, como segurar objetos, escrever ou abotoar roupas. Além disso, a inflamação pode afetar os tendões que controlam os movimentos dos dedos, resultando em sintomas como estalos ou bloqueios durante o movimento, conhecidos como dedo em gatilho (CLIQUE AQUI para ler o artigo sobre dedo em gatilho).
Vale destacar que a artrite reumatoide pode afetar não apenas as mãos, mas também outras articulações e até mesmo órgãos do corpo. Por isso, um diagnóstico precoce, aliado a um tratamento adequado, torna-se essencial para controlar a progressão da doença e preservar a qualidade de vida do paciente. Além disso, o acompanhamento regular com um reumatologista e, sempre que necessário, com um cirurgião de mão, desempenha um papel fundamental para garantir um manejo eficaz da condição.
Sintomas e diagnóstico da condição
A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune crônica que afeta predominantemente as articulações, especialmente as das mãos e punhos. Seus sintomas iniciais incluem dor, inchaço, rigidez matinal prolongada e sensação de calor nas articulações. Esses sinais geralmente se manifestam de forma simétrica, afetando ambas as mãos simultaneamente.
Identificar a artrite reumatoide precocemente é essencial para preservar a função articular e, ao mesmo tempo, evitar deformidades irreversíveis. Para que isso aconteça, é indispensável adotar uma abordagem completa, combinando uma avaliação clínica criteriosa com exames complementares que ajudem a confirmar o diagnóstico e direcionar o tratamento de forma assertiva.
Avaliação clínica detalhada
O diagnóstico da artrite reumatoide começa, primeiramente, com uma anamnese minuciosa e um exame físico cuidadoso. Nesse momento, o médico busca identificar sintomas como dor, inchaço e rigidez articular, além de avaliar cuidadosamente a distribuição e a simetria das articulações afetadas. Um sinal de alerta importante é a rigidez matinal que persiste por mais de uma hora, indicando fortemente a presença de AR.
Exames laboratoriais
Diversos exames de sangue auxiliam na confirmação do diagnóstico:
- Fator Reumatoide (FR): presente em cerca de 75% dos casos de AR, embora possa aparecer em outras doenças.
- Anticorpos antipeptídeo citrulinado cíclico (anti-CCP): mais específicos para AR, sua presença está associada a formas mais agressivas da doença.
- Velocidade de hemossedimentação (VHS) e Proteína C reativa (PCR): Indicadores de inflamação sistêmica, frequentemente elevados em pacientes com AR.
Exames de imagem
As imagens ajudam a avaliar a extensão do dano articular:
- Radiografias: podem mostrar erosões ósseas e estreitamento do espaço articular em estágios mais avançados.
- Ultrassonografia e Ressonância Magnética: mais sensíveis na detecção precoce de sinovite e erosões, permitindo intervenção antes que ocorram danos irreversíveis.
Importância do diagnóstico precoce
- Identificar a AR nos estágios iniciais é crucial. Intervenções precoces podem retardar a progressão da doença, melhorar a qualidade de vida e reduzir o risco de incapacidades permanentes.
- Se você apresenta sintomas como dor e rigidez nas mãos, especialmente pela manhã, é essencial procurar um especialista. O diagnóstico e tratamento adequados podem fazer uma diferença significativa na sua saúde e bem-estar.
Intervenções conservadoras
O tratamento da artrite reumatoide (AR) nas mãos geralmente começa com intervenções conservadoras. De maneira prática, essas abordagens buscam controlar a inflamação, aliviar a dor, preservar a função articular e, além disso, retardar a progressão da doença. Para facilitar o entendimento, a seguir apresentamos as principais estratégias não cirúrgicas que auxiliam no manejo da AR nas mãos.
Infiltrações com corticosteroides
As infiltrações intra-articulares de corticosteroides são frequentemente empregadas para reduzir a inflamação e aliviar a dor nas articulações afetadas. Esse procedimento consiste na aplicação de medicamentos diretamente na articulação comprometida, proporcionando alívio dos sintomas de forma localizada e rápida. É importante ressaltar que o número de infiltrações deve ser limitado, conforme orientação médica, para evitar possíveis efeitos adversos.

Uso de órteses
As órteses desempenham um papel importante no cuidado das mãos afetadas pela artrite reumatoide. Esses dispositivos ortopédicos ajudam a estabilizar, alinhar e proteger as articulações das mãos e dos punhos. Além disso, contribuem para a redução da dor, a prevenção de deformidades e a melhoria da funcionalidade nas atividades do dia a dia. No entanto, para garantir o uso correto e obter os melhores resultados, é fundamental contar com a orientação de profissionais especializados, como fisioterapeutas ou terapeutas ocupacionais, que avaliarão cuidadosamente a necessidade e indicarão o tipo de órtese mais adequado para cada caso.

Terapia ocupacional
Desempenha um papel fundamental no tratamento da AR, oferecendo estratégias para otimizar a realização das atividades diárias e promover a independência do paciente. Dentre as técnicas utilizadas, destacam-se:

Educação sobre proteção articular: orientações para minimizar o estresse nas articulações durante as tarefas cotidianas, preservando sua integridade.
- Conservação de energia: ensino de métodos para equilibrar períodos de atividade e descanso, evitando a fadiga excessiva.
- Adaptação de atividades e uso de tecnologias assistivas: modificações no ambiente e utilização de dispositivos que facilitam a execução das tarefas diárias.
Essas intervenções visam melhorar a qualidade de vida do paciente, promovendo maior autonomia e bem-estar.
Fisioterapia
A fisioterapia é essencial no manejo da AR, contribuindo para a manutenção da mobilidade articular, fortalecimento muscular e alívio da dor. Os recursos terapêuticos incluem:
- Exercícios terapêuticos: atividades específicas para melhorar a amplitude de movimento e a força muscular.
- Termoterapia e crioterapia: aplicação de calor ou frio para reduzir a dor e a rigidez articular.
- Hidroterapia: exercícios realizados na água, proporcionando menor impacto nas articulações e facilitando os movimentos.
A atuação conjunta de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, em colaboração com o reumatologista e cirurgião de mão, é fundamental para o sucesso do tratamento conservador da AR nas mãos. Essa abordagem multidisciplinar permite um plano de cuidados personalizado, focado nas necessidades individuais de cada paciente.
Quando a cirurgia é necessária?
Quando as intervenções conservadoras deixam de ser suficientes para controlar a dor ou quando as deformidades passam a comprometer seriamente a função das mãos, a cirurgia surge como uma opção valiosa no tratamento da artrite reumatoide. Nesse momento, é fundamental avaliar a decisão de forma criteriosa, levando em consideração o estágio da doença, a gravidade dos sintomas e, sobretudo, as necessidades e expectativas de cada paciente.

Principais procedimentos cirúrgicos
Sinovectomia: é indicada nas fases iniciais da doença, quando há inflamação persistente da membrana sinovial (sinovite) que não responde adequadamente ao tratamento medicamentoso. Esse procedimento consiste na remoção cirúrgica da sinóvia inflamada, visando reduzir a dor, o inchaço e prevenir danos adicionais às articulações. Embora possa proporcionar alívio significativo, é importante ressaltar que a sinovectomia não impede a progressão da doença, sendo mais eficaz quando realizada precocemente.
Artroplastia: envolve a substituição da articulação danificada por uma prótese artificial, com o objetivo de restaurar a mobilidade e aliviar a dor. É geralmente indicada para pacientes com deformidades severas e perda funcional significativa, especialmente nas articulações metacarpofalângicas (entre os dedos e a mão). Apesar de oferecer melhora na função e na estética das mãos, os resultados podem variar, e há riscos associados, como desgaste da prótese e necessidade de revisões cirúrgicas futuras.
Artrodese: a artrodese, ou fusão articular, é um procedimento que visa estabilizar a articulação afetada, eliminando o movimento para aliviar a dor. É indicada em casos avançados da doença, onde a dor é intensa e a mobilidade da articulação já está comprometida. Embora resulte na perda de movimento da articulação tratada, a artrodese pode proporcionar alívio significativo da dor e melhorar a função geral da mão.
Considerações importantes
- Avaliação individualizada: a escolha do procedimento cirúrgico deve ser baseada em uma avaliação detalhada do paciente, considerando fatores como idade, nível de atividade, extensão da deformidade e expectativas em relação à função da mão.
- Colaboração multidisciplinar: a decisão cirúrgica deve ser tomada em conjunto com o reumatologista e o cirurgião de mão, garantindo uma abordagem integrada e personalizada para o tratamento.
- Reabilitação pós-operatória: a recuperação após a cirurgia requer um programa de reabilitação adequado, incluindo fisioterapia e terapia ocupacional, para otimizar os resultados e restaurar a função da mão.
Benefícios de uma abordagem integrada com o reumatologista
O tratamento ideal da artrite reumatoide é multidisciplinar. A atuação conjunta entre o cirurgião de mão e o reumatologista garante que o paciente tenha acesso a estratégias abrangentes de controle da doença. Enquanto o reumatologista gerencia a doença sistêmica com medicamentos imunossupressores, o cirurgião de mão foca na preservação da função e na correção de danos locais. Essa parceria é essencial para resultados duradouros e satisfatórios. Para que os resultados sejam ainda mais satisfatórios, é fundamental que o procedimento seja conduzido por uma equipe especializada e realizado no momento clínico mais adequado. Além disso, a decisão cirúrgica precisa ser cuidadosamente individualizada, considerando não apenas a gravidade da doença e as limitações funcionais, mas também os objetivos e expectativas de cada paciente.
. . .
O Dr. Lucas Macedo é membro do corpo clínico de cirurgia da mão do Instituto Torus, uma das maiores clínicas particulares de São Paulo. Foi médico assistente da equipe de ortopedia e cirurgia da mão do hospital universitário da USP – HU. Foi também preceptor da residência de cirurgia da mão e microcirurgia da universidade de São Paulo – USP. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM). Especializado em cuidar das pessoas, com atendimento ético, humanizado e baseado nas mais atuais evidências científicas, o Dr. Lucas tem o objetivo de cuidar das mãos de seus pacientes.




