Síndrome do Túnel do Carpo na Gestação

Síndrome do Túnel do Carpo na Gestação: sintomas, causas e tratamento

Durante a gravidez, diversas transformações fisiológicas impactam o corpo da mulher. Algumas delas, embora comuns, não devem ser ignoradas. É o caso da síndrome do túnel do carpo (STC), uma neuropatia compressiva que afeta o nervo mediano e pode surgir ou se intensificar durante a gestação. Muitas mulheres relatam dor, formigamento e dormência nas mãos, especialmente no terceiro trimestre. Mas o que exatamente causa isso? Existe tratamento seguro durante a gravidez? E quando é preciso buscar ajuda especializada?

Neste artigo, vamos abordar em profundidade as causas, sintomas, formas de tratamento e orientações específicas sobre a STC na gestação, com base em evidências clínicas atualizadas e boas práticas médicas. Boa leitura!

O que é a síndrome do túnel do carpo na gestação

A síndrome do túnel do carpo é causada pela compressão do nervo mediano, que passa por um canal estreito no punho chamado túnel do carpo. Esse nervo é responsável por parte da sensibilidade e mobilidade dos dedos das mãos. Quando comprimido, ele provoca sintomas como formigamento, dor e fraqueza, principalmente nas regiões inervadas.

Durante a gestação, especialmente no segundo e terceiro trimestres, ocorre uma série de adaptações corporais que favorecem o surgimento da síndrome. O aumento do volume sanguíneo e a retenção de líquidos contribuem para o inchaço dos tecidos, inclusive na região do punho, o que pode reduzir o espaço no túnel do carpo e pressionar o nervo mediano.

Além disso, o aumento do hormônio relaxina (responsável por preparar o corpo para o parto) pode afetar ligamentos e articulações, deixando-os mais flexíveis e suscetíveis a pequenas instabilidades, inclusive nas mãos. Esses fatores criam o cenário ideal para a instalação da compressão nervosa que caracteriza a STC.

Por que ela acontece com mais frequência no terceiro trimestre

O terceiro trimestre é marcado por um acúmulo maior de fluidos e alterações hormonais intensas. Esses fatores aumentam a pressão sobre estruturas articulares e nervosas, incluindo o túnel do carpo. O útero em crescimento, a variação da postura e o ganho de peso também contribuem indiretamente para a instalação da compressão nervosa, uma vez que impactam a circulação sanguínea e promovem retenção hídrica mais acentuada.

A literatura médica sugere que entre 30% a 60% das gestantes podem apresentar sintomas de STC em algum momento da gestação. Embora a maioria dos casos seja leve ou moderada, quando não diagnosticados corretamente, podem interferir significativamente na qualidade de vida, no sono e nas atividades do dia a dia. Há também uma tendência ao agravamento progressivo se nenhuma medida for adotada.

Quais são os principais sintomas da síndrome

Os sintomas mais comuns da síndrome do túnel do carpo na gestação incluem:

  • Dormência e formigamento, especialmente no polegar, indicador e dedo médio;
  • Dor que irradia para o antebraço, especialmente ao acordar;
  • Sensibilidade reduzida nas mãos e dedos;
  • Dificuldade para segurar objetos ou realizar movimentos finos;
  • Sensação de fraqueza ou perda de força ao manipular utensílios;
  • Agravamento dos sintomas durante a noite ou ao acordar.

Muitas vezes, os sintomas acometem ambas as mãos e surgem de forma progressiva. A intensidade pode variar de acordo com a fase da gestação e as atividades diárias da paciente. Em casos mais graves, a dor se torna constante, e os movimentos finos (como abotoar roupas, escrever ou segurar o celular) passam a ser realizados com dificuldade.

É verdade que os sintomas somem após o parto?

Na maioria dos casos, sim. Com o fim da gestação, há uma redução natural da retenção de líquidos e do volume corporal total, o que diminui a pressão sobre o nervo mediano. Muitas mulheres relatam alívio espontâneo dos sintomas nas primeiras semanas pós-parto, sem necessidade de intervenção adicional. Essa melhora costuma ocorrer entre 2 e 4 semanas após o nascimento do bebê.

Entretanto, nem sempre isso acontece. Em alguns cenários, principalmente quando os sintomas começaram precocemente, estiveram presentes durante toda a gravidez ou estão associados a fatores estruturais, como anatomia naturalmente estreita do túnel do carpo ou histórico de atividades repetitivas, a melhora pode ser parcial ou inexistente. Isso exige tratamento específico e acompanhamento médico mesmo após o parto.

Quando o quadro pode se tornar crônico

O risco de cronificação existe quando os sintomas se prolongam por várias semanas após o parto sem sinais de regressão. A compressão prolongada pode levar a danos irreversíveis no nervo mediano, com prejuízo funcional permanente. Além disso, mulheres que já apresentavam tendência à STC antes da gestação estão mais suscetíveis a desenvolver a forma crônica.

Outro fator que contribui para a cronificação é a ausência de medidas terapêuticas precoces. Quanto mais tempo o nervo permanece sob compressão, maiores as chances de degeneração. Por isso, é fundamental o acompanhamento com um especialista ao surgirem os primeiros sintomas, garantindo um plano terapêutico eficaz e precoce que minimize o risco de sequelas.

Existe tratamento seguro durante a gravidez?

Sim. Diversas medidas podem ser adotadas com segurança para aliviar os sintomas e melhorar a função das mãos. O tratamento durante a gestação é sempre individualizado, respeitando as condições da paciente e a fase gestacional.

A maioria dos casos responde bem a abordagens conservadoras, como uso de órteses, modificações de rotina e fisioterapia. Em situações refratárias, a infiltração com corticoide pode ser considerada com critério médico. Já a cirurgia, embora segura quando necessária, é geralmente indicada apenas em último caso e preferencialmente após o parto.

Não há uma abordagem única para todas as pacientes, por isso é essencial a avaliação de um médico com experiência em patologias da mão e compreensão dos cuidados específicos durante a gestação.

Como é feito o tratamento

O plano terapêutico depende da intensidade dos sintomas e da resposta às medidas iniciais. Entre as opções mais comuns estão:

  • Uso de órtese (tala) noturna para manter o punho em posição neutra e reduzir a compressão;
  • Ajustes ergonômicos e pausas em atividades repetitivas ou que exijam esforço manual;
  • Fisioterapia com exercícios de deslizamento neural, mobilização de punho e drenagem manual para redução do edema;
  • Aplicação de gelo local para alívio sintomático;
  • Infiltração local com corticosteroides em casos moderados a graves, realizada com anestesia local e apenas quando os demais métodos não surtiram efeito;
  • Cirurgia minimamente invasiva, indicada quando há falha persistente no tratamento clínico e sintomas incapacitantes.

Todas essas abordagens devem ser discutidas com um especialista em mão com experiência em pacientes gestantes. A escolha do tratamento deve considerar tanto a eficácia quanto a segurança materno-fetal.

Depoimento real de uma paciente que teve melhora após infiltração

“Estava com sete meses de gravidez e minhas mãos dormiam todas as noites. Achei que fosse algo comum, mas a dor me acordava de madrugada e me impedia de dormir. Meu médico recomendou o uso de tala e iniciamos sessões de fisioterapia. Apesar de alguma melhora, os sintomas persistiam. Após muita conversa e avaliação, optei por fazer uma infiltração com corticoide. O procedimento foi rápido, seguro e com acompanhamento médico. Em menos de uma semana, a sensação de formigamento reduziu drasticamente. Pude dormir melhor e seguir com a gravidez de forma mais tranquila.”

Por que você não precisa conviver com dor durante nove meses?

Sentir dor, dormência ou perda de sensibilidade nas mãos não deve ser encarado como “parte natural” da gestação. Embora alterações fisiológicas sejam esperadas, o desconforto constante impacta a qualidade do sono, o bem-estar emocional e a funcionalidade no dia a dia. Além disso, ignorar os sintomas pode levar à evolução do quadro e dificultar a recuperação.

Com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, é possível aliviar os sintomas da síndrome do túnel do carpo sem comprometer a saúde da mãe ou do bebê. Existem soluções seguras, eficazes e adaptadas à realidade da paciente gestante. O acompanhamento com um ortopedista especialista em mão é essencial para definir a melhor abordagem, evitar complicações e proporcionar uma gravidez mais confortável.

Ignorar a dor não é uma opção. Buscar ajuda especializada é um passo importante para garantir que você tenha qualidade de vida durante todas as fases da gestação.

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Dr. Lucas Macedo é membro do corpo clínico de cirurgia da mão do Instituto Torus, uma das maiores clínicas particulares de São Paulo. Foi médico assistente da equipe de ortopedia e cirurgia da mão do hospital universitário da USP – HU. Foi também preceptor da residência de cirurgia da mão e microcirurgia da universidade de São Paulo – USP. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM). Especializado em cuidar das pessoas, com atendimento ético, humanizado e baseado nas mais atuais evidências científicas, o Dr. Lucas tem o objetivo de cuidar das mãos de seus pacientes


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