Reimplante de dedos amputados - Dr. Lucas Macedo

Reimplante de dedos amputados: como é feito e quais os resultados?

Acidentes que resultam na amputação de dedos são eventos traumáticos que, consequentemente, podem comprometer significativamente a funcionalidade da mão e a qualidade de vida do paciente. No entanto, em muitos casos, é possível restaurar parte da função e da estética por meio do reimplante digital. Esse procedimento microcirúrgico visa reconectar as estruturas amputadas e, assim, proporcionar ao paciente uma chance de retomar suas atividades diárias com maior autonomia.

Neste artigo, exploraremos em detalhes o que é o reimplante de dedos, quando é indicado, as técnicas utilizadas, os fatores que influenciam no sucesso da cirurgia e o processo de recuperação.
Continue a leitura para entender melhor esse procedimento complexo e suas implicações.​


O que é o reimplante de dedos?

O reimplante de dedos é um procedimento cirúrgico que tem como objetivo reconectar um dedo ou parte dele que foi amputado, reestabelecendo sua vascularização, função e sensibilidade. Para isso, a cirurgia reconecta ossos, tendões, artérias, veias e nervos, utilizando técnicas de microcirurgia. Desse modo, busca-se recuperar ao máximo a funcionalidade e a aparência do dedo afetado.

Indicações para o reimplante

Nem todas as amputações são passíveis de reimplante. A decisão depende de diversos fatores, incluindo:​

  • Tipo de lesão: amputações por corte limpo (traumas por guilhotina) têm maior chance de sucesso em comparação com lesões por esmagamento ou avulsão. As lesões por esmagamento e avulsão apresentam maior dano tecidual, tornando o reimplante mais complexo e com menor taxa de sucesso. ​

  • Tempo de isquemia: o tempo entre a amputação e a cirurgia é crucial. Idealmente, a equipe deve realizar o reimplante dentro de 6 horas em casos de isquemia quente e até 12 horas em casos de isquemia fria. O resfriamento adequado da parte amputada pode prolongar esse tempo, aumentando as chances de sucesso do procedimento. ​

  • Idade e saúde geral do paciente: pacientes jovens e saudáveis têm melhor prognóstico. Condições como diabetes, tabagismo e doenças vasculares podem comprometer a cicatrização e a recuperação funcional, reduzindo as chances de sucesso do reimplante. ​
  • Importância funcional do dedo: o polegar, por exemplo, é essencial para a preensão, tornando seu reimplante prioritário. Amputações de múltiplos dedos também são indicações formais para reimplante, especialmente em crianças. Isso se deve à grande importância funcional e ao alto potencial de recuperação nessa faixa etária. 

Além dos fatores mencionados, a avaliação da funcionalidade remanescente da mão desempenha um papel crucial na decisão pelo reimplante digital. Quando a mão ainda funciona bem após a perda de um dedo, o reimplante pode não ser a melhor escolha. Isso porque o dedo reimplantado pode ficar rígido e insensível.

Como consequência, essa condição compromete a funcionalidade geral da mão. Nesses casos, os profissionais de saúde priorizam a preservação da capacidade funcional da mão como um todo, evitando procedimentos que possam resultar em limitações adicionais. Essa abordagem busca garantir que o paciente mantenha a maior autonomia possível em suas atividades diárias.


Como deve ser acondicionada a parte amputada até a chegada ao hospital?

O cuidado adequado com a parte amputada desde a ocorrência do acidente, passando pelo transporte, até a chegada ao hospital, pode fazer toda diferença no sucesso do reimplante.

Algumas dicas podem ajudar a manter o dedo amputado em uma condição adequada para o reimplante. São eles:

– Coletar todas as partes amputadas, independente do grau de lesão ou contaminação – a equipe de reimplante saberá dizer o que pode ser útil ou não na reconstrução;

– Envolver as partes em uma esponja molhada (ou gazes) com soro fisiológico ou água em temperatura ambiente. Colocar esses materiais embebidos em uma outra embalagem plástica (pode ser uma sacola). Essa sacola deve ser colocada em um isopor ou recipiente com gelo.

– Cuidado! A parte amputada não deve ser colocada em contato direto com o gelo, pois pode haver lesão térmica adicional. O objetivo é resfriar os tecidos sem congelar!

Essas medidas ajudam a prolongar um pouco o tempo de isquemia, ou seja, permite que os reimplantes possam ser realizados mesmo após períodos maiores como 24h por exemplo para dedos.

Mas seja breve. O tempo até a chegada a um centro de reimplantes é crucial, pois quanto menor o tempo de isquemia, maiores as chances de sucesso ao final da cirurgia, mesmo com um bom armazenamento e transporte adequado da parte amputada.

Técnicas microcirúrgicas utilizadas

  • Fixação óssea: utilização de fios metálicos ou placas para alinhar e estabilizar os ossos.​
  • Reconexão tendínea: sutura dos tendões para restaurar o movimento.​
  • Anastomose vascular: reconexão de artérias e veias sob microscópio para restabelecer o fluxo sanguíneo.​
  • Sutura nervosa: reconexão dos nervos para recuperar a sensibilidade.​


Em casos mais complexos, pode ser necessário usar enxertos de veias ou nervos. Além disso, pode haver a necessidade de retalhos cutâneos. A equipe também utiliza técnicas como o reimplante heterotópico. Nesse caso, o dedo amputado é reimplantado em outro local para preservar a função.

A microcirurgia é essencial na reimplantação de dedos.

Ela permite a reconexão precisa de vasos sanguíneos, nervos e tendões. Para isso, a equipe utiliza microscópios e instrumentos especializados. Essa técnica avançada é crucial para restaurar a função e a aparência do dedo reimplantado. ​


Além disso, quando o reimplante não é viável, a equipe recorre a outras técnicas. A transferência de dedos do pé para a mão, por exemplo, apresenta bons resultados e ajuda a restaurar a funcionalidade. Esses procedimentos complexos requerem uma equipe cirúrgica altamente especializada e infraestrutura adequada para garantir os melhores resultados possíveis.

Fatores que influenciam no sucesso da cirurgia

Diversos fatores influenciam diretamente no sucesso de um reimplante de dedo, sendo essencial uma avaliação criteriosa para cada caso.​

  • Mecanismo da lesão: lesões por corte limpo apresentam taxas de sucesso superiores, com cerca de 91,4%, em comparação com lesões por esmagamento (68,4%) ou avulsão (66,3%). Isso ocorre porque cortes limpos preservam melhor as estruturas anatômicas, facilitando a reconexão durante a cirurgia.
  • Nível da amputação: amputações mais distais, como nas pontas dos dedos, apresentam maior dificuldade técnica devido ao menor diâmetro dos vasos sanguíneos e nervos, tornando a microcirurgia mais complexa.​

  • Tempo de isquemia: o intervalo entre a amputação e o reimplante é crucial. Tempos prolongados de isquemia estão associados a menores taxas de sucesso, pois a viabilidade dos tecidos diminui com o passar do tempo.

  • Condições do paciente: fatores como tabagismo e presença de comorbidades, como diabetes e hipertensão, podem comprometer a recuperação, afetando negativamente a cicatrização e a revascularização do dedo reimplantado.​


Aspectos técnicos e clínicos que potencializam os resultados

Além dos fatores previamente discutidos, outros elementos desempenham um papel crucial no sucesso do reimplante digital. A realização de anastomoses venosas garante o retorno venoso adequado e previne complicações no reimplante digital. Estudos indicam que pelo menos uma anastomose venosa melhora as taxas de sobrevivência do reimplante. Isso porque ela reduz o risco de congestão venosa e necrose tecidual. Em casos em que múltiplas veias são anastomosadas, os resultados tendem a ser ainda mais favoráveis. ​


Outro fator determinante é a idade do paciente. De modo geral, pacientes mais jovens tendem a apresentar melhor recuperação funcional. Isso ocorre principalmente pela maior capacidade de regeneração tecidual e adaptação neuromuscular. Do mesmo modo, o dedo afetado também influencia o prognóstico. Reimplantes no dedo médio ou mínimo, por exemplo, costumam ter desfechos mais positivos. Isso pode ocorrer porque esses dedos envolvem menor complexidade funcional em comparação ao polegar ou ao indicador.


Por fim, é importante destacar que diversos fatores aumentam as chances de sucesso no reimplante digital. Ainda assim, a equipe médica deve avaliar cada caso de forma individualizada. Essa abordagem personalizada permite considerar as especificidades da lesão e as condições clínicas do paciente, otimizando os resultados e garantindo uma recuperação funcional mais eficaz. A análise das especificidades da lesão é essencial para otimizar os resultados do reimplante digital. Além disso, é preciso considerar as condições clínicas do paciente e a experiência da equipe cirúrgica.

Recuperação e funcionalidade

A recuperação após o reimplante é um processo gradual que pode se estender por vários meses. A fisioterapia desempenha um papel crucial nesse período, sendo essencial para restaurar a mobilidade, força e sensibilidade do dedo reimplantado.


Além disso, programas de reeducação sensitiva trazem benefícios importantes para a recuperação. Eles aceleram o processo e melhoram a qualidade dos resultados. Com isso, o paciente readquire a percepção tátil e a funcionalidade da mão com mais eficiência. É importante ressaltar que, mesmo com uma cirurgia tecnicamente bem-sucedida, podem persistir limitações funcionais e sensoriais residuais.

O comprometimento ativo do paciente com o processo de reabilitação desempenha um papel crucial na obtenção dos melhores resultados possíveis. A motivação pessoal influencia diretamente a eficácia da reabilitação, sendo essencial para a recuperação funcional e a reintegração às atividades diárias. A adesão às recomendações terapêuticas, a participação consistente nas sessões e o envolvimento nas atividades propostas são fatores determinantes para o sucesso do tratamento.

Apoio familiar

Além disso, o apoio de familiares e amigos pode fortalecer o engajamento do paciente, proporcionando um ambiente favorável à recuperação. Portanto, a colaboração entre paciente, equipe de saúde e rede de apoio é fundamental para alcançar os objetivos da reabilitação.

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O reimplante de dedos amputados é uma opção viável e eficaz para restaurar a função e a estética da mão. Os resultados são ainda melhores quando o procedimento é realizado por uma equipe especializada e dentro do tempo adequado. A decisão de realizar o procedimento deve ser individual, considerando os fatores específicos de cada caso.​


O Dr. Lucas Macedo é membro do corpo clínico de cirurgia da mão do Instituto Torus, uma das maiores clínicas particulares de São Paulo. Foi médico assistente da equipe de ortopedia e cirurgia da mão do hospital universitário da USP – HU. Foi também preceptor da residência de cirurgia da mão e microcirurgia da universidade de São Paulo – USP. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM). Especializado em cuidar das pessoas, com atendimento ético, humanizado e baseado nas mais atuais evidências científicas, o Dr. Lucas tem o objetivo de cuidar das mãos de seus pacientes.